A polícia tirou os suspeitos da cama, na manhã desta sexta-feira (12), em São Paulo, mas até ser preso, o casal apontado como chefe do esquema parecia viver sem descanso. É o que mostram as dezenas de registros de viagens pelo mundo de Marcos José Valentim de Almeida e Bárbara Rodrigues de Oliveira. Sempre com hábitos extravagantes e caríssimos. Roma, Cancún, Ibiza. Jogo de futebol em Barcelona, passeio de Ferrari pelas ruas de Paris. Na semana passada, estavam em Dubai. Esbanjavam dinheiro que não era deles. A polícia descobriu que a quadrilha criou e registrou uma empresa com praticamente o mesmo nome de uma grande companhia de seguros que já existe. Essa empresa atendia por aplicativos de mensagens e pela internet como se fosse a verdadeira. Quando o cliente precisava emitir a segunda via de um boleto para pagar o plano de saúde ou o seguro de vida, por exemplo, recebia o documento muito parecido com o original, mas com dados que faziam o dinheiro ir para a conta da quadrilha. Em apenas 1 ano, foram R$ 4 milhões. A empresa dos golpistas tem, inclusive, registro verdadeiro na junta comercial de São Paulo, e os investigadores dizem que as vítimas relataram uma mesma estranheza: quando buscaram a seguradora no Google, para tirar a segunda via do boleto, o primeiro nome que aparecia era o da empresa da quadrilha. Para o delegado, é um indicativo de que os estelionatários pagaram ao Google para dar destaque ao anúncio deles, o chamado impulsionamento. “Eles investiram dinheiro pesado para conseguir impulsionar esse link. A partir disso, conseguiam que os clientes fossem buscar a segunda via do boleto e chegassem até eles”, explica o delegado Ângelo Lages. Golpistas geram boletos falsos de seguros de saúde na internet e desembolsam mais de R$ 4 milhões — Foto: Reprodução/JN A polícia também prendeu uma terceira pessoa, em São Paulo. Daniele dos Santos aparece como dona de uma outra empresa da quadrilha que se passou pela seguradora para receber os pagamentos. A polícia já identificou vítimas em 5 estados do Brasil. Um homem, que não quer ser identificado, é empresário e estudante de computação, e não percebeu que o boleto do plano de saúde dele era uma falsificação. Os investigadores querem saber agora como os golpistas tiveram acesso ao banco de dados dos clientes da seguradora, porque sabiam exatamente qual o plano e o valor dos boletos que eles pagavam por mês. Além de estelionato, os presos vão responder por organização criminosa e lavagem de dinheiro, que têm penas bem maiores. Para essa quadrilha, é o fim de uma vida de ostentação financiada por golpes. Mas para não ser vítima de fraudes como essa, a polícia diz que qualquer pessoa pode tomar pelo menos uma precaução. Marcos José Valentim de Almeida e Bárbara Rodrigues de Oliveira disseram à polícia que só vão se manifestar à Justiça. Danielle dos Santos disse que emprestou o nome para abrir a empresa porque acreditava se tratar de um negócio legal. A Junta Comercial de São Paulo informou que a empresa está com as atividades suspensas desde janeiro. E que a Junta é um órgão registrador, e não fiscalizador. O Google declarou que proíbe anúncios que tentam confundir usuários e sobre produtos que induzam o comportamento desonesto. Que, no caso de serviços financeiros, exige que a empresa tenha a documentação verificada antes de anunciar. E que, quando identifica a violação das regras, suspende imediatamente o anúncio e bloqueia a conta do anunciante.